Entre a agulha e a tesoura

A arte de Costurar 

Existem profissões que foram fundamentais para o desenvolvimento da sociedade há milhares de anos atrás, que permanecem até hoje. Mas com muitas dificuldades. 

Hoje em dia, esses profissionais são difíceis de encontrar. Em Entre-Ijuís, município com pouco mais de 9 mil habitantes, no interior do Rio Grande do Sul, mora Júlia Brocardo da Luz, uma das únicas costureiras da cidade. Aprendeu a costurar com a mãe, ainda pequena. Júlia, ou dindé como é chamada pelos familiares, morava na zona rural da cidade, o que dificultava o acesso dela e da família à ''Vila'', como era chamado o centro da cidade. ''Quando eu era mais nova sempre estava costurando. De brincadeira, para as bonecas, em casa. Depois sim que fiz um curso, através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais''. .

O Sindicato, citado por ela, forneceu gratuitamente curso de costura no inteior, onde Dindé morava. Ela e a irmã aproveitaram a oportunidade e se inscreveram no curso. Só ela seguiu na profissão. Quando questionada se gosta da profissão, ela responde sorrindo: ''Gosto. É o que eu sei fazer. É o meu ganha-pão, então tenho que gostar''.

Uma arte

O conforto ao vestir as peças e detalhes únicos são fatores levados em conta na hora de procurar uma costureira. Para Júlia, esses fatores não são encontrados em roupas industrializadas, ou compradas em lojas '' As roupas que tu faz sob medida, fica certinha na pessoa. E as vezes tu compra na loja, conforme a pessoa, da diferença''. E dá mesmo. Uma das principais procuras de seus clientes é para ajustes, ''A maioria é disso. Compra uma calça, fica muito cumprida, tem que diminuir. As vezes é muito larga tem que diminuir um pouco, e assim vai'' conta a costureira.

Outra grande procura, é durante o mês de setembro. A Semana Farroupilha não movimenta apenas os CTG's da cidade, mas também o Ateliê de Júlia. Sendo ela uma das únicas costureiras da cidade, ela fica responsável pelas bombachas ''Esse ano foi um show de bombacha'', brinca ela, ''Vestidos de prenda eu não peguei para fazer, porque não dava tempo, não tinha como fazer''.

A Costureira

Um metro e meio cheio de simpatia e simplicidade. O cabelo curto é perfeito para combinar com o resto. O sorriso quase completo se não fosse um detalhe que sempre é percebido graças ao poder de sorrir sempre. O que para ela não é esforço e nunca se nega. Desde pequena se dedica a cuidar da sua família.Hoje, aos 55 anos, solteira, não possui filhos vive com sua mãe. Toma o conta da casa e de seu ateliê, referência na cidade. E dona de uma profissão, quase, extinta. Júlia sabe disso e comenta. '' É o que todo mundo fala. Que não existe mais. Que é difícil de encontrar. Os jovens não querem mais, eles tem outras opções e assim fazem outras coisas''.



Vida

Há cerca de 50 anos não era fácil morar no interior. E quando se é de uma classe social mais baixa as dificuldades são maiores. Ter que abrir mão de frequentar a escola para ajudar nas tarefas de casa, é só uma dessas dificuldades.

Ao se ter oportunidades nessas situações, tem se aproveitá-las. Como na época ela não tinha opções, nem escolaridade, foi o que Júlia fez, ao cursar Corte e Costura e investir nisso.

Essa profissão foi importante para a evolução da humanidade e seria até hoje se não houvesse sua industrialização. Mas como todas as profissões manuais, de séculos passados, a profissão de costureira também passou por evoluções. Contudo, a originalidade e respeito por essa profissão ainda sobrevive.