Grafite e cidade: Contrastes 

Com traços finos, precisos e o contraste entre as cores Gigio, de 25 anos, inicia mais um de seus grafites pela cidade de Santo Ângelo. Ele começa a esboçar o desenho criado, na parede da antiga estação ferroviária da cidade. Traça os primeiros passos e recria o que estava desenhado em seu caderninho. Sem perceber e entender o que o artista estava fazendo, no meio daquela tinta, surge então mais um de seus trabalhos como grafiteiro.



Ele cria seus desenhos através de sua marca: "Para um grafiteiro o prestigio maior é ver sua marca registrada em vários lugares. O pichador, por exemplo, quanto mais alto ele fizer a marca dele, mais importante ele se torna". Gigio recria sua marca “Decor” em um conjunto de desenhos e arte. Inserir a arte do grafite nas cidades brasileiras é ainda um obstáculo para os artistas da área. Mas mostrar o grafite como arte em uma cidade do interior se torna um grande desafio.


Apesar do grafite estar inserido no Brasil desde 1970, a distinção entre pichação e arte ainda é confundida pela sociedade. "Quero deixar minha marca na cidade, mostrar que meu trabalho faz a diferença na comunidade onde eu moro. Eu fui o primeiro a introduzir o grafite como arte na cidade, quero dar exemplo para quem quer ser grafiteiro. Quero mostrar para Santo Ângelo que o grafite é uma arte e não vandalismo", conta Gigio.

Entenda mais a importância dessa arte nas cidades brasileiras. Ouça a tag! 

O Início 

Aos meus seis anos comecei a dar meus primeiros "rabiscos". Eu tinha uma grande paixão pelo desenho “Cavalheiros do Zodíaco”, então comecei a recriar os personagens, foi assim que o desenho e a arte surgiram na minha vida. “Comecei jovem a grafitar nas ruas de Santo Ângelo, não havia ninguém na cidade que fazia esse trabalho ou algo parecido, me inspirei em revistas de grafite e arte”, ressalta Geovane. Depois de grande e com traços evoluídos começou a fazer “bicos” na área, fazia letreiros para o comércio da cidade, desenhava em camisetas para as escolas e então começou a dar aula de desenho para jovens.


“Tentei e ainda tento trazer o contraste da cidade com o grafite. Mostrar que grafite e a pichação são coisas distintas”. Gigio conta que a sociedade santo-angelense, através do trabalho dele, mostrou interesse pelo trabalho do grafiteiro, a sociedade local oferece muros e materiais para que ele possa mostrar sua arte na cidade. O estudante de sistemas da computação Leonardo Teichmann passa todos os dias para trabalhar por uma de suas criações, "É como se meu trajeto para o trabalho ganhasse um bônus, ver aquela arte no meio do caos da cidade, contrastando com os prédios, as pessoas e os carros, me traz uma calma e mais ânimo para iniciar meu dia."Gigio explica que quase sempre os grafites são feitos em muros sujos e malcuidados, justamente para contrastar no meio urbano, tornando aquele pedaço de parede uma obra-prima única. “Esse é o brilho do grafite, tornar algo que passa despercebido em bonito e algo único.”

O Futuro

Apesar da pouca idade, o jovem grafiteiro tem vários planos e muitos deles já estão sendo concretizados. Além do grafite, Gigio exerce outra profissão, tatuador. "Quando eu conheci o grafite, conheci junto a tatuagem. Naquela época eu assinava uma revista de grafite e arte, era no tempo da internet discada. Como eu não tinha internet, eu precisava copiar, e comecei a comprar revistas de tatuagens e de grafite. Comecei a me interessar mais por isso e fui alimentando essa vontade dentro de mim. "

Com mais um novo projeto em seu currículo, o artista confessou que não está conseguindo tempo para grafitar, mas que quando surge uma oportunidade ele sempre vai atrás de uma parede “velha” para grafitar. Os próximos passos do jovem é montar seu o estúdio, “Quero fazer um estúdio e ateliê. Quero continuar dando as minhas aulas de desenho e grafite arte, fazer minhas tatuagens e mostrar meus quadros, como se fosse uma galeria de arte. Juntar um pouco do que eu gosto numa coisa só. ”