E o Rock, morreu mesmo?

Há tempos os “rockeiros das antigas,” críticos de música e opinadores de bar afirmam com toda certeza que o rock, como gênero musical (ou até mesmo estilo de vida), morreu e pode mesmo parecer que isso é verdade. O The Hot 100, índice da revista Billboard, organiza as músicas lançadas no mercado por ordem de popularidade, considerando audiência em rádio, venda de discos e desempenho em plataformas de streaming, é um dos termômetros de maior credibilidade na mídia musical.

Já que 100 é um número muito grande, vou exemplificar usando apenas o topo da tabela. As dez músicas mais populares da semana. Não é nenhuma surpresa o fato de que ele é tomado completamente por artistas de Hip-hop, Pop, R&B e Dance music.

billboard.com

Dentre eles há uma variedade de doze gravadoras, contando que Wiz Khalifa, Fetty Wap e David Guetta tem contrato com duas. A distribuição dos discos dessas gravadoras é feita por, pelo menos, uma destas cinco empresas, Warner Music Group, Sony Music Entertainment, Universal Music Group, Atlantic Records (uma empresa da Warner) e EMI Records (uma empresa da Sony).

Não é monopólio comercial, nem ilegal, mas a falta de diversidade presente é extremamente prejudicial pro público. Sem contar com toda a fortuna que vai para o bolsos dos empresários.

Essas quatro empresas dominam o circuito musical mundial há, pelo menos, vinte anos e julgando pela falta de bandas de rock no Hot 100 atualmente, só podemos concluir uma coisa. Aparentemente ele não é mais um gênero comercialmente viável.

www.pianosbecometheteeth.com

Comparemos os números  de visualizações no YouTube de seus hits presentes no The Hot 100 e o número de curtidas em suas páginas oficiais do Facebook com os mesmos índices de bandas de rock que selecionei pela qualidade musical, baseando-me em considerações pessoais.

E abaixo um gráfico que ilustra a discrepância de público que estes grupos alcançam.

Enquanto o Top 10 da Billboard atinge um público de centenas de milhões de pessoas os rockeiros ficam na casa das centenas de milhares. Pode até parecer próximo mas não é. Os dois gráficos também mostram que a banda Brand New tem um público "fiel" maior que Mark Ronson, WALK THE MOON e Fetty Wap e a banda The Wonder Years maior do que Andy Grammer e OMI.

Brand New @ Coachella

O rock não está morto, está diferente.

Desde meados da década de 1950 com o surgimento do Rockabilly, uma fusão entre o Rock n' Roll e o Country (apelidado de Hillbilly), diversos outros subgêneros foram criados a partir do modelo inicial. Nos últimos anos o estilo se tornou tão miscigenado que dificultou sua idenficação.

A queda do valor comercial acarretou na quebra de vínculos entre músicos e gravadoras, o que fomentou na libertação criativa dos artistas, simbólica e literal, e possibilitou que eles experimentassem mais ao criar, gerando mais e mais variedade dentro do gênero.

 A popularização da internet acabou fazendo dela o refúgio do rock. Todo mundo pode publicar o que quiser*. Somando isso à facilidade de produzir músicas, devido à enorme variedade e acessibilidade de produtos digitais (notebooks, tablets e etc.), praticamente confirma que só não produz quem não quer. Muitas bandas independentes, ou seja, sem gravadora, recorrem ao recurso do crowdfunding para financiarem de forma coletiva os seus discos.

Um exemplo recente é da banda Alaska, de São Paulo, que através do site Catarse conseguiu arrecadar oito mil reais, o dobro da meta estabelecida para a prensagem e distribuição do seu novo disco, Onda.

Portais como o Bandcamp, onde você pode pagar o valor que quiser para uma música ou álbum, e Soundcloud, onde você pode ouvir online quantas músicas quiser e de graça (apenas paga uma taxa para publicar), facilitam e muito que novas bandas divulguem seu trabalho e o alcance que isso terá depende apenas do seus esforço como produtor.

Uma outra "inovação" é a dos aplicativos de streaming como o Spotify, e este ainda lhe permite encontrar bandas novas baseado em um sistema de relação entre bandas semelhantes. Assim fica "fácil" encontrar onde o rock está escondido.

O problema é que a socieade contemporânea atrelada em seu comodismo espera que tunho venha à sua mão. Não é assim. Esse costume de que o público deve receber o que deve consumir da mídia massiva deve acabar. É algo extremamente divertido e prazeroso ouvir música nova, e música nova boa. Ou até mesmo escutar de novo um som que não lhe agradou anos atrás e agora se tornar um de seus preferidos.