O Cinema Afrofuturista

As influências do Blaxploitation e o Brasil

Thiago Henrique

Em 2015, a Caixa Cultural de São Paulo realizou a mostra de cinema “Afrofuturismo: Cinema e Música em uma Diáspora Intergaláctica”, que trouxe as principais obras dessa estética. Entre os filmes apareciam os brasileiros Bom dia, Eternidade e Branco Sai, Preto Fica. Entre outros:

Bem Vindo a Terrordome - Ngozi Onwurah

(90 min., 1995, Reino Unido, 18 anos, DVD)

Em um futuro próximo, Terrordome é um enorme gueto onde toda a população negra foi forçada a viver. Após um incidente envolvendo Spike e sua irmã, Anjela, as tensões raciais, a pobreza e a brutalidade explodem em um violento conflito. É o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher negra no Reino Unido. Essa distopia é influenciada pela mitologia africana, pelo cinema de Spike Lee e pelo hip-hop do grupo Public Enemy.

Bom Dia, Eternidade - Rogério de Moura

(98 min., 2010, Brasil, 10 anos, DVD)

O filme conta a história de Clementino, fictício famoso ex-jogador de futebol que teve fama e sucesso. Participou da Seleção Brasileira de Futebol, na Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Atualmente, velho, caído no esquecimento, vive das lembranças de um tempo de glória e sucesso. Tornou-se uma pessoa amarga e rancorosa. Acredita que sua vida acabou. Odete, sua esposa, é, ao mesmo tempo, companheira, mãe e enfermeira. Um dia, um acontecimento mágico mudará a rotina do casal. Clementino tem a chance de viver tudo novamente.

Branco Sai, Preto Fica - Adirley Queirós

(93 min., 2014, Brasil, 12 anos, DCP)

Tiros em um baile black na periferia de Brasília ferem dois homens. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é da sociedade repressiva. O filme mistura elementos do documentário e da ficção científica para recriar e, ao mesmo tempo, vingar os eventos reais de brutalidade policial acontecidos em um baile charme, na Ceilândia/DF.

Crumbs - Miguel Llansó

(68 min., 2015, Etiópia/Espanha, 18 anos, DCP)

O filme é um romance de ficção científica coproduzido pela Espanha e Etiópia. Candy, o herói da narrativa, está cansado de catar sucatas de civilizações extintas e sonha com uma vida longe do estado de medo perpétuo. O herói embarca, então, em uma jornada épica e surreal pelas paisagens de uma Etiópia pós-apocalíptica, na tentativa de chegar à nave espacial que há anos paira sob os céus do país.

Drylongso - Cauleen Smith

(86 min., 1998, EUA, 12 anos, Digital)

Pica, heroína do filme, é uma menina com uma missão. Armada com uma câmera Polaroid, ela está determinada a documentar a existência de jovens negros. Ela, como muitos, está convencida de que eles são uma espécie que, em breve, será extinta. Seus instantâneos obsessivos irão levá-la a muitos personagens excêntricos do seu bairro, que a farão reconhecer o valor de sua vida e seu trabalho.

Nascidas em Chamas - Lizzie Borden

(80 min., 1983, EUA, 18 anos, DVD)

A narrativa do filme está situada 10 anos após a revolução mais pacífica da história dos Estados Unidos, na qual o governo socialista ganha o poder. O filme apresenta uma distopia em que os problemas de muitos grupos progressistas - minorias, liberais, organizações dos direitos homossexuais, feministas - são tratados ostensivamente pelo governo. Apesar da revolução, ainda existem problemas com desemprego, com as questões de gênero e com a violência. Em Nova York, nesse tempo futuro, um grupo de mulheres decide se organizar e se mobilizar para levar adiante essa revolução, mais do que qualquer homem - e muitas mulheres - imaginaram em suas vidas.

O Blaxploitation

O cinema afrofuturista é uma vertente do cinema Blaxploitation americano, que aparece na década de 1970 para concretizar a presença do negro na indústria cinematográfica. Os filmes eram voltados para o público negro norte-americano e eram realizados por atores e diretores negros.

O movimento consagrou grandes ídolos dos anos 1970 e 1980, como Pam Grier, Isaac Hayes, Richard Rountree e outros. As trilhas sonoras privilegiavam músicas da chamada "Black Music", cantores como Curtis Mayfield, Isaac Hayes, James Brown, Quincy Jones, Barry White, Marvin Gaye, Willie Hutch.

Até hoje o movimento é referenciado nas produções Hollywoodianas como o filme Jackie Brown de Quentin Tarantino.

Coffy - Jack Hill

(91min, 1973, EUA, 18 anos)

Coffy é uma enfermeira que ao descobrir que sua irmã mais nova sofreu uma overdose, decide ir atrás dos traficantes para vinga-lá. Ela usa a sexualidade para conquistar os bandidos e aproveitar para os matar.

Shaft - Gordon Sparks

(100min, 1971, EUA, 18 anos)

Trata-se de um filme de ação com elementos do film noir, Shaft conta a história de um detetive negro, John Shaft, que viaja através do Harlem e se envolve com a máfia italiana a fim de encontrar a filha desaparecida de um mafioso negro.

Blacula - William Crain

(92min, 1972, EUA, 18 anos)

O Conde Drácula morde o príncipe africano Manuwalde e o prende em um caixão. Séculos depois Manuwalde sai do caixão, com um novo nome (Blacula) e espalha um rastro de sangue e pânico na cidade. O vampiro encontra uma mulher chamada Tina, que é a reencarnação de sua falecida esposa, Luva.

O Dogma Feijoada

No Brasil, existe um movimento que, apesar de não se definir afrofuturista, prega o negro a frente da produção:

Não existe uma produção muito extensa dessa estética, inspirada no dogma 95 do Lars Von Trier, mas segue a lista de alguns filmes que se enquadram nesse movimento:

Bróder - Jeferson Dê

(92min, 2009, Brasil, 18 anos, DVD)

Capão Redondo, bairro de São Paulo. Macu (Caio Blat), Jaiminho (Jonathan Haagensen) e Pibe (Sílvio Guindane) são amigos desde a infância e seguiram caminhos distintos ao crescer. Jaiminho tornou-se jogador de futebol, alcançando a fama. Pibe vive com Cláudia e tem um filho com ela, precisando trabalhar muito para pagar as contas de casa. Já Macu entrou para o mundo do crime e está envolvido com os preparativos de um sequestro. Uma festa surpresa organizada por dona Sonia (Cássia Kiss), mãe de Macu, faz com que os três amigos se reencontrem. Em meio à alegria pelo reencontro, a sombra do mundo do crime ameaça a amizade do trio.

A Negação do Brasil - Joel Zito Araújo

(Documentário, 92min, 2000, Brasil)

Vencedor do Festival É Tudo Verdade de 2001, o documentário traz à tona a história das lutas dos atores negros pelo reconhecimento de sua importância na história da telenovela brasileira. O filme é enriquecido ainda mais com depoimentos de atores como Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta e Maria Ceiça, entre outros, que contam suas experiências e discutem o preconceito contra artistas negros. O diretor Joel Zito Araújo, baseado em suas memórias, e em uma minuciosa investigação, analisa as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros. Junto ao documentário, o autor lançou no mesmo ano (dezembro de 2000) o livro "A Negação do Brasil – o negro na telenovela brasileira" pela Editora Senac.

O Dia de Jerusa - Viviane Ferreira

(20min, 2014, Brasil, 14 anos)

O filme narra o encontro entre Jerusa (Lea Garcia), uma moradora de um velho sobrado do Bixiga, com a jovem Silvia, interpretada por Débora Marçal, que circula pelo tradicional bairro paulistano fazendo pesquisa de opinião sobre sabão em pó. A história surgiu, conta Viviane, de suas observações do cotidiano, ao circular pelas ruas de São Paulo.