Janelle Monáe e The ArchAndroid

A saga de Cindi Mayeweather

Thiago Henrique

A música é uma das principais formas de arte que consolidaram a estética afrofuturista. A cantora estadunidense Janelle Monáe tem uma dos principais álbuns do movimento. The ArchAndroid, seu disco de estreia, apropria-se da temática para continuar a história iniciada no EP Metropolis: Suite I (The Chase). Inspirada no filme Metropolis (1927) de Fritz Lang, narra a saga de Cindi Mayewather um androide procurado pela polícia que, assim como o Ziggy Stardust é para David Bowie, é o alter-ego de Janelle.

O álbum foi um sucesso comercial e de crítica, alcançou a posição 17 no Billboard no seu lançamento e vendeu 21 mil cópias em sua primeira semana. O crítico musical da revista americana Pitchfork, Matthew Perpetua, definiu o álbum: "A mitologia sci-fi de Monáe é uma inspiradora adição para o rico cânone da arte afro futurística, mas não é necessário entrar em seu conceito altamente elaborado para entender o básico de seu apelo musical".

Janelle utiliza diversas referências da cultura pop para construir seu mundo, de Star Wars e Blade Runner a Stevie Wonder e Salvador Dali, e sua musicalidade é complexa, usa elementos do Hip Hop, Soul, R&B e Art Rock. De acordo com a cantora, sua influência "vem de todas as coisa que eu amo, trilha sonora de Goldfinger mixado com álbuns de Stevie Wonder e David Bowie, junto de hip hop experimental, como Stankonia do Outkast".

Nascida na Cidade de Kansas, filha de uma faxineira e um caminhoneiro, a criança sempre se identificou com a personagem Dorothy, do Mágico de Oz, e sempre sonhou em se tornar uma cantora. Ao completar o ensino médio, Janelle se mudou para Nova Iorque para estudar teatro na American Musical and Dramatic Academy, onde participou do campus Teatro da Liberdade. Seu sonho de participar da Broadway foi um dos impulsos que a levou a estudar teatro, mas acabou criando seus próprios personagens.

O futuro não é a única preocupação de Janelle. Quando não está envolvida com seus novos projetos musicais, a cantora milita em movimentos negros e feministas. Quando questionada no twitter sobre suas roupas, um internauta sugeriu que ela abandonasse os "ternos estúpidos" e "tentasse ser sexy" , respondeu "Senta lá. Não sou para consumo masculino". A cantora frequentemente afirma que usa seu cabelo natural, sem químicos, e afirma: "Assuma seu cabelo. Cabelo natural sempre foi legal, mas está sendo ainda mais celebrado agora. Então deixe seu cabelo natural brilhar”.

O twitter da cantora é um meio de empoderamento feminino, ela levanta questões como a igualdade salarial e a luta contra a objetificação: "Eu sinto que tenho uma responsabilidade em relação a minha comunidade e a outras jovens mulheres de redefinir o que é ser uma mulher. Não acredito em roupas para homens ou roupas para mulheres, eu simplesmente gosto do que gosto. E eu acho que nós devíamos ser respeitados somente por sermos indivíduos".

A música "Hell You Talmabout", parceria com Wondaland Record, gravadora de Monáe, trata da violência policial contra o negro nos Estados Unidos, a música cita uma lista de nomes de negros que apanharam ou foram mortos pela ação represora dos militares.


"Essa música é um receptáculo" disse a cantora no Instagram. "Ela carrega a angústia insuportável de milhões. Nós gravamos essa música como um canal para a dor, o medo e o trauma causado pelo contínuo assassinato de nossos irmãos e irmãs. Nós gravamos para desafiar as indiferenças, desrespeito e negligência de todos que permanecem quietos sobre o assunto. O silêncio é o nosso inimigo. O som é nossa arma. Dizem que uma pergunta vive para sempre até ela receber uma resposta que merece. Vocês não vão dizer os nomes deles?".