Entre o campo e a saudade

A saída dos jovens do meio rural

Entre as décadas de 60 e 80, o Brasil presenciou o maior índice de êxodo rural de sua história. Mais de treze milhões de pessoas abandonaram o campo e seguiram para os grandes centros urbanos. Esse movimento migratório segue até hoje, em especial entre os jovens. 

O impacto deste esvaziamento pode ser percebido nas diversas localidades do interior do Estado. Um desses locais é "Cinco Bocas", o qual pertence ao município de Pirapó, no noroeste do Rio Grande do Sul.

A "Cinco Bocas" pode ser considerado um local difícil de chegar. Os visitantes precisam enfrentar 24 quilômetros de estrada de chão em condições precárias. Lá, em uma propriedade próxima ao Rio Ijuí, junto dos pais Catarina e Alberto Schmitz; do irmão Orico e de seu companheiro, Adão Ortiz; vive Maria Fernandes Schmitz, de 56 anos.

A agricultora mora na localidade desde que nasceu. Porém, assim como a maioria dos jovens, os filhos de Maria, Eduardo e Edimilson, deixaram o campo para fixar residências no meio urbano. Ao mesmo tempo que lamenta a saudade dos filhos, a agricultora afirma que a melhor opção para os jovens é mesmo partir. “A gente não queria, mas teve que aceitar. Tinha que melhorar para eles ter onde trabalhar. Aqui não tem uma empresa, não tem nada”, ressalta a agricultora.


Oportunidades 

Foto: Larissa Dorneles

Uma pesquisa realizada pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e a Unidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior (Univates), em 2005, revelou as razões que levam os filhos de agricultores familiares da região a abandonar o campo. Segundo eles, as cidades oferecem possibilidade de um salário fixo, trabalho menos penoso, mais tempo livre, maior possibilidade de estudo e lazer.

"Nós precisamos começar desde a própria educação no colégio. Mostrar que o campo é um lugar bom de morar e oferece oportunidades". - Giovani Hoff

A situação não está restrita a região do Vale do Taquari. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Luiz Gonzaga com extensão de base em Rolador, Giovani Hoff, essa também é uma preocupação na região das Missões. "Nós, integrantes do movimento sindical, sempre buscamos alguma alternativa. Em diversos conselhos, nos reunimos e questionamos como frear esse processo ", afirma Hoff.

Ele também ressalta que as políticas públicas atuais, como crédito rural e acesso à terra, são essências para controlar a situação. Porém, é necessário promover uma discussão mais ampla sobre o êxodo rural. “Nós precisamos começar desde a própria educação no colégio. Mostrar que o campo é um lugar bom de morar e oferece oportunidades”.

Com a palavra, os protagonistas

Foto: Larissa Dorneles

Além de oferecer o ensino médio aos estudantes, a Escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul, no município de São Luiz Gonzaga, também possibilita a formação como Técnico em Agropecuária. A qualidade do ensino e a oportunidade de obter uma qualificação de forma gratuita atrai, todos os anos, estudantes para o educandário.

A maioria dos alunos são filhos de agricultores de cidades próximas à São Luiz Gonzaga, que optaram por sair de casa para estudar. Entre esses jovens, estão Lucas Zimmermann, Cintia Giordani, Jeferson Sortica, Jean Carlo Schuquel e Daiara Saul.

Prestes a concluir o último ano do ensino médio, os estudantes sonham em cursar o ensino superior. Porém, a vontade de voltar para a propriedade da família e ajudar os pais, também ocupa um lugar nos planos para o futuro.


Êxodo rural pelo mundo 

Foto: Larissa Dorneles

A saída dos jovens do campo não é uma questão presente apenas no Brasil. O êxodo rural cresceu assim como as grandes cidades do mundo. Mesmo com uma realidade diferente da encontrada no Brasil, as pequenas propriedades rurais em outros países também presenciam o esvaziamento do campo.

Conforme pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), até 2030, cinco bilhões de pessoas morem nas áreas urbanas em todo o mundo.

De acordo com o professor do curso de Economia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Argemiro Brum, esse abandono mundial dos meios rurais tem como causa mais do que condições financeiras e infraestrutura. Segundo ele, as cidades evoluíram de uma forma tão expressiva e oferecem muitos recursos, que acabam por atrair a maioria dos jovens, independente das condições oferecidas no campo.

O êxodo rural é um processo que não pode ser parado, apenas reduzido. Ou então, um pequeno número de pessoas serão as responsáveis por produzir alimentos para a maioria.

Por enquanto, mesmo com as dificuldades, permanecem no campo pessoas que, assim como Maria, têm amor pela terra onde cresceram.