Um Caminho de Histórias nas Missões

Santuário do Caaró

Visitar a região das Missões no Rio Grande do Sul é visitar um passado vivido em diversos locais. Cada um com a sua história e a preservação dos povos que lá viveram.

No trevo de acesso ao município de Caibaté, Coração das Missões, noroeste do RS, situa-se a dois quilômetros o Santuário do Caaró. Em guarani, erva amarga. No local foi uma redução missioneira fundada na primeira fase da evangelização dos índios, em 1628, pelo padre Roque Gonzales de Santa Cruz acompanhado do padre Afonso Rodrigues. Ambos foram mortos pelos índios quinze dias depois.

O professor de história Charlei Willers conta que toda a região que hoje compreende o Rio Grande do Sul foi habitada há milênios, principalmente, por grupos guaranis, gês e charruas. A partir de 1626, com a presença do padre jesuíta Roque Gonzalez e de outros que o seguiram, foram fundados povoados jesuíticos-guaranis. De acordo com histórias contadas, quem descobriu a antiga redução neste lugar foi o padre Luís Ieguert, que também tinha conhecimentos de arqueologia. Porém, só com relatos de antigos moradores, na primeira metade do século XX, que se revelou parte da história. 

História do Local

Contextualização da História Jesuítica

Na redução de Caaró as construções não tinham pedras nem ferro. Era tudo de madeira. Por isso não sobrou nenhum resquício. Padre Roque Gonzales, filho de nobre família paraguaia, fundou os quatro primeiros povoados. Quando criava o quinto, que seria em homenagem a "Todos os Santos do Caaró", foi morto. Junto com ele estava o Padre Afonso Rodrigues. De acordo com a história, os dois foram mortos a mando de Cacique Nheçu, que não aceitava a presença de "homens de preto" na região.

Os padres foram esquartejados e colocados dentro da rústica igreja do povoado no qual foi ateado fogo. Os revoltosos seguiram em direção a outro povoado onde mataram o Padre Jesuíta João de Castilhos. Diz a lenda que no dia seguinte voltaram ao local onde estavam os corpos dos dois primeiros padres mortos e tiveram uma grande surpresa ao verem em meio as cinzas e brasas um coração intacto, do qual saiu uma voz dizendo "Matastes a quem vos amava e queria bem; porém somente meu corpo, pois minha alma está no céu. E não tardará o castigo, porque virão os meus filhos para punir-vos por terdes maltratado a imagem da Mãe de Deus. Mas eu voltarei para voz ajudar, porque muitos trabalhos vos hão de sobrevir por causa de minha morte." 

Atravessaram uma flecha no coração de Padre roque e atearam fogo novamente na capela. Dois dias depois, mataram Padre João de Castilhos na redução de Assunção de Ijuí, hoje município de Roque Gonzales. Ele foi arrastando por quilômetros em meio à mata. Os restos dos padres foram recolhidos e levados para Concepción, povoado criado em território que hoje pertence à Argentina, onde ficaram por muitos anos.

Preservação da História

Como está o local atualmente

No local, um monumento foi erguido para lembrar os padres. Juntos, os três foram declarados santos da Igreja Católica no fim do século XX. As imagens estão na capela do santuário bem como uma representação do coração do padre Roque, preservado até hoje no Colégio dos Jesuítas em Assunção, Paraguai. 

O santuário foi criado em homenagem aos santos mártires. É composto por uma ampla área verde e um espaço para missas ao ar livre. Milhares de pessoas vêm em romarias e peregrinações e buscam água reconhecida como milagrosa. O Caaró, em termos de religião católica, é o ponto mais significativo em todo o processo missioneiro. Lá está o sangue de dois santos da Igreja Católica: Roque e Afonso.



Todos os anos, no mês de novembro, acontece a Romaria ao Caaró, que concentra religiosos de diversos municípios e regiões em busca de celebração católica ao recordar a história da vida e morte dos padres missioneiros. 

De acordo com o atual prefeito de Caibaté, Sérgio Remi Birck, é preciso valorizar cada vez mais um dos principais pontos turísticos do estado, e enquanto administrador do município prestar o suporte necessário para a realização da Romaria do Caaró. Ela é também uma oportunidade para viver um dia de oração, penitência, ultrapassando os oitenta anos de peregrinação. 

Os fiéis vão em busca, principalmente, da Fonte de Água Benta, conhecida como fonte de águas milagrosas. Em 2015, a Romaria chegou a sua 82ª edição. Neste ano ela teve como lema Família, Fonte de Vida e Fé. 

Fonte de Água Benta

O caminho para a Fonte também contém o registro do caminho que Jesus fez à crucificação.






Estruturas do local e Meio Ambiente 

Todo o local do Santuário do Caaró é composto por amplos espaços de vegetação nativa, que são constantemente ocupados pelos visitantes. 





Além da Romaria Diocesana ao Caaró, que completou sua 82ª edição, outras Romarias também vêm crescendo a cada ano, das quais pode se destacar a Romaria Mirim, Romaria dos Motociclistas, Romaria dos Charreteiros e Romaria dos Idosos.

O Santuário do Caaró tem uma grande história que vale a pena ser compartilhada e o seu local visitado.