Paredes de história

Análise sobre os imóveis antigos de Cruz Alta

Com quase duzentos anos de história, o município de Cruz Alta é famoso por seus prédios antigos. Atualmente, dois são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), o Palácio da Intendência, prédio da Prefeitura Municipal, e a casa do museu Erico Verissimo.

Em 2007 foi realizado um plano diretor em Cruz Alta. Trata-se de uma listagem dos imóveis históricos com maior importância cultural do município. A lista contém quarenta e sete prédios que foram construídos entre os anos de 1824 e 1940 e representam, de alguma forma, interesse histórico e cultural para o município. 

Após esse plano, em até dois anos deveria ser desenvolvido um inventário, para que esses imóveis de maior importância fossem preservados. Seis anos depois, porém, os prédios ainda não foram inventariados. Neste ano, uma parceria entre a Prefeitura Municipal e a Universidade de Cruz Alta foi fechada para buscar acelerar esse processo.

Segundo o mestrando do programa de pós-graduação profissionalizante em patrimônio cultural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), docente do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade de Cruz Alta (Unicruz) e arquiteto e urbanista da Prefeitura Municipal de Cruz Alta, Mateus Veronese, os imóveis são preservados, até o momento, pela comissão do Patrimônio Cultural, composta por membros da sociedade cruz-altense. É a comissão que decide se um imóvel poderá ter sua estrutura alterada ou ser demolido. "Um inventário vem para sistematizar esse processo, para que esses imóveis sejam devidamente preservados e protegidos de forma efetiva", ressalta Mateus.

O que torna um imóvel patrimônio histórico e cultural de um município?

Primeiramente, o imóvel precisa ser reconhecido pela população como um patrimônio, são as pessoas que vão dizer se a edificação tem valor. No passado, a distinção de patrimônio cultural era muito ligada a grandes obras, obras que tiveram fatos importantes na história, já atualmente a definição está bem mais ampla. Tanto casas de madeira como de alvenaria, grandes ou pequenas, são consideradas patrimônio histórico e cultural. Quando a sociedade entende que aquele imóvel é um patrimônio do município vai buscar formas de preservá-lo e fomentar principalmente o turismo através dele.

O material de que é feito também não define a importância de um imóvel perante a sociedade. Em Cruz Alta, por exemplo, há casas de madeira e de alvenaria que podem ser considerados de interesse histórico e cultural do município. Quanto à idade, há imóveis mais antigos, construídos a partir de 1826, mas também edificações mais recentes, com estilo modernista de 1950. 

Vivendo histórias

Odegar Bañolas relata as experiências de viver em um imóveis quase centenário

A maioria das casas de interesse histórico de Cruz Alta são preservadas pelos próprios moradores. Isso porque, em muitos casos, as residências foram construídas por antepassados e repassadas através das gerações. Muitas delas, porém, vem se perdendo com o tempo.

Atualmente, dezenas de casas de interesse histórico do município estão sendo comercializadas. É o exemplo da Casa Dumoncel, localizada na Avenida General Câmara, centro de Cruz Alta. 

Construído por Eduardo Dumoncel, do município de Santa Bárbara do Sul, no início do século XX, o prédio foi adquirido em 1949 por Cândido Nascimento, que deixou o imóvel em posse da família através de gerações. Atualmente, porém, o prédio se encontra à venda.

Segundo Odegar Bañolas Neto, de 33 anos, bisneto de Nascimento, o imóvel foi herdado por cinco irmãos, que desejam dividir o valor da venda. "Nenhum teve interesse em ficar com a casa, pois a restauração sairia muito caro e o local é tombado de fachada, por isso não pode ter grandes alterações na estrutura", comenta Odegar.

Importância para o município

"Imóveis resgatam a cultura e estimulam a economia municipal"0

Não só a preservação é levada em conta quando o assunto é manter os imóveis antigos de pé. Esses prédios também movimentam a economia e a cultura do município.

O museu Erico Verissimo é exemplo disso. O local recebe cerca de 4 mil visitantes do mundo inteiro anualmente. A entrada no museu é gratuita, mas as visitações auxiliam o movimento de pessoas em Cruz Alta.

O movimento de pessoas para visitação tanto do museu Erico Verissimo como de outros imóveis históricos auxilia na economia de Cruz Alta, trazendo mais pessoas para o município. “Os edifícios de interesse histórico e cultural representam a identidade da cidade, para que, assim, as pessoas que não conhecem e as futuras gerações tenham acesso a essa riqueza cultural e para que esse patrimônio seja divulgado para a população e, de certa forma, não se perca”, explica Mateus Veronese.

Foto: Deise Krug