Falhas no trânsito
geram caos

Pedestres e motoristas disputam espaço em meio a buracos, sinalização ineficiente e descaso do governo nas ruas de Mariana


De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014 a população marianense estimada era de 58.233 habitantes. O número de veículos era de 23.172, ou seja, aproximadamente 39% da população dispõem de carros. É um número pequeno, mas que dada a situação do trânsito, traz alguns transtornos.

Semáforos: 
situação caótica

Arte: Lucas Campos
Foto: Gabriela Ramos

Os semáforos de Mariana estão desligados desde o final de 2014, após estudo técnico de viabilidade de fluxo de veículos, realizado pelo Departamento Municipal de Trânsito (Demutran). De acordo com o diretor do departamento, Geraldo Simplício, após o desligamento dos semáforos, uma série de deficiências técnicas que prejudicavam o funcionamento deles foram constatadas.

Segundo ele, desde janeiro algumas empresas especializadas em sinalização semafórica estão sendo convocadas para realizar um estudo, montar um termo de referência e publicar uma licitação para melhorar o trânsito e os sinais. O edital seria publicado até o dia 24 de junho, prevendo a compra de novos equipamentos, para atender principalmente as regiões do Catete, Tancredo Neves e 16 de Julho. Até o fechamento da edição, o edital ainda não havia sido publicado. 

No entanto, na região da rodovia do Contorno, o Departamento de Trânsito concluiu que, com os semáforos desligados, o trânsito flui melhor, e outro estudo técnico deve ser feito. Os estudos foram realizado pelas empresas Garra e Contrasin e, já no início do ano, a primeira manutenção foi feita por ambas as empresas. 

A Câmara Municipal questionou o desligamento dos semáforos, alegando que a ausência destes prejudica os pedestres da cidade. Segundo o vereador Cristiano Vilas Boas, a Secretaria de Defesa Social respondeu, após um requerimento enviado pela Câmara, que haveria um agente de trânsito substituindo os semáforos, mas não é o que ocorre.

O trânsito complicado é um dos problemas que Mariana enfrenta. Há ausência de sinalização e os pedestres encontram dificuldade para atravessar as ruas.

Há também vários relatos de acidentes, alguns com morte. Em janeiro, Magno Evaristo Cota, 54 anos, morreu atropelado na Rua Antônio Olinto por um motoqueiro que fugiu do local. Um comerciante, que prefere não se identificar por medo de represália, afirmou que quase atropelou uma criança por causa da ausência dos semáforos, enquanto os guardas de trânsito ficaram "apenas olhando". "O trânsito aqui é muito precário. Se eles são guardas municipais, tinham que ajudar na atuação do trânsito, nos cruzamentos principais, que nem esse aqui no centro, mas não é isso que acontece", completou.

Vivian Lima, pedestre, estava com a filha na tarde do dia 15 de junho e ficou cerca de dez minutos tentando atravessar do ponto de ônibus até a área do Terminal Turístico. "Os guardas ficam parados, ganhando à toa, em vez de ajudar a controlar o trânsito. Aí a gente corre o risco de ser atropelado a qualquer momento", reclamou.

De acordo com Cristiano Vilas Boas, o questionamento da Câmara foi feito também porque a cidade não possui um engenheiro de trânsito que trabalhe na Prefeitura. Porém, segundo o diretor do Departamento de Trânsito, para projetos de grande porte é contratado um especialista.

Diário de bordo 
do LAMPIÃO

Se há uma coisa confusa é o centro de Mariana. Em uma volta rápida, consigo perceber vários problemas relacionados a ele, como buracos, motoristas quase atropelando pedestres e ausência de sinalização. 

Determinada a identificar os inconvenientes, caminhei da Rua do Catete até a Rua Praia do Canela, acompanhada do fotógrafo Lucas Campos e da responsável pela arte da matéria, Taíssa Faria. No dia 16 de junho, saímos do Catete às 13h40 e chegamos à Praia do Canela às 15h. Durante o caminho, passamos pela Ponte Liberdade e percorremos a Rua Wenceslau Braz. De lá, fomos para a Avenida João Ramos Filho e seguimos até a rodovia do Contorno, parando no cruzamento da Policlínica. Fomos também aos bairros Cruzeiro do Sul, Santa Rita de Cássia e Santa Clara. Foi uma longa caminhada, mas nos revelou aspectos interessantes. Confira abaixo, no mapa interativo, o nosso percurso traçado e o que encontramos.

Dentre todo o trajeto percorrido pela equipe de reportagem, o levantamento final dos problemas apurados foram:

O bairro Cruzeiro do Sul, um dos mais ricos de Mariana, tem obras de duplicação e uma saída para a rodovia, enquanto Santa Rita de Cássia e a comunidade de Santa Clara ainda não possuem asfalto (embora, segundo moradores, as obras já tenham começado).

O jogo de empurra e a burocracia

Foto: Lucas Campos

Para se apurar uma matéria, um repórter precisa de fontes, alguém que confirme sua investigação. Uma fonte pode ser um especialista ou oficial, como órgãos federais, estaduais e municipais. Seguindo este princípio, fui apurar a matéria para o LAMPIÃO, que era sobre trânsito (tanto na cidade quanto na estrada). Fui atrás dos órgãos oficiais para investigar algumas hipóteses levantadas. O que aconteceu foi um grande jogo de empurra.

Na matéria, eu dependia de uma resposta do Departamento Municipal de Trânsito, da Secretaria de Obras e da Secretaria de Manutenção de Estradas Vicinais. Para conseguir falar com o Demutran passei primeiro pela Assessoria de Comunicação (Ascom) da Prefeitura.

A Secretaria de Obras, porém, disse que as perguntas que fiz "não são de natureza da sua secretaria". E, assim, me jogaram novamente para o Departamento Municipal de Trânsito que, por sua vez, respondeu que as obras na estrada são de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER), assim como sua manutenção e fiscalização. Não consegui falar com a Secretaria de Manutenção de Estradas Vicinais - os números que estão no site da Prefeitura não funcionam. Tentei contato com o DER e não obtive resposta.

Nesse jogo de empurra, quem mais perde é o cidadão. Enquanto ninguém se pronuncia, a estrada que passa pelo Bairro Chácara e vai até Passagem de Mariana apresenta diversos problemas.

Em aproximadamente dois quilômetros, são 11 quebra-molas, todos com placas de sinalização, mas apenas dois pintados. São 14 buracos e 11 desníveis.

Há duas paradas de ônibus, ambas sem placas. Não há faixa de pedestres, mas aparecem duas placas indicando a presença de pedestre. A primeira placa de "Pare" apareceu somente na rodoviária, assim como a de velocidade. Ao todo, aparecem três placas de controle de velocidade. Há vários trechos sem "olho de gato" e sem acostamento. O mato cobre muitas placas e alguns pontos do acostamento.

Próximo a Passagem, há um altar em memória a um motoqueiro, vítima de um acidente na estrada. Ele morreu em 2012, com apenas 22 anos. Enquanto há todos esses problemas, o jogo de empurra continua e a burocracia não deixa a apuração andar.

Falta Plano de 
Mobilidade Urbana

Foto: Gabriela Ramos

De acordo com a Lei Federal12.587/12, municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar um Plano de Mobilidade Urbana (PMU), que deveria entrar em vigor até abril de 2015, para receberem verba federal destinada à área. No entanto, Mariana ainda não possui um plano e, dessa forma, fica impedida de receber os recursos.

A Prefeitura anunciou o plano em 2013, ano em que, devido aos protestos por causa do transporte público, ele chegou a ser bastante discutido. Porém, ainda não foi protocolado na Câmara Municipal. Segundo o vereador Cristiano Vilas Boas, a Câmara pretende realizar uma audiência pública sobre mobilidade, que seria marcada entre julho e agosto deste ano. De acordo com a legislação, a Câmara não pode apresentar o projeto, pois não pode propor nada que gere custos que afetem os cofres públicos. A proposta tem que vir da Prefeitura.

Um processo de licitação já está em posse da Secretaria de Planejamento e Gestão para ajudar no plano de mobilidade. A administração municipal prevê um investimento inicial de aproximadamente R$ 300 mil. Contudo, de acordo com o diretor do Departamento Municipal de Trânsito, Geraldo Simplício, algumas ações sobre acessibilidade foram realizadas com verba municipal, tais como vagas para deficientes e idosos, rampas para cadeirantes e o estacionamento rotativo. 

"As dificuldades que os municípios encontram na elaboração de seu Plano de Mobilidade Urbana se apresentam principalmente na escassez de pessoal qualificado para realizar o trabalho", Geraldo Simplício, diretor do Departamento Municipal de Trânsito.

Devido à indefinição da situação política de Mariana, a Câmara Municipal acha importante ficar à frente da discussão sobre o PMU. Uma página do Greenpeace ajuda a saber sobre a implantação do plano de mobilidade em todo o Brasil, e permite que o internauta mande um e-mail para o prefeito de sua cidade cobrando a realização do plano.

CRÉDITOS


Texto: Catarina Barbosa
Foto de capa: Lucas Campos
Foto: Gabriela Ramos e Lucas Campos
Design: Taíssa Faria
Audiovisual: Daniela Felix