Fechado para obras

Fora da rota artística há quinze meses, 
Casa da Ópera está em reforma; 
promessa de conclusão
 do serviço é em agosto

Com 245 anos de história, a Casa da Ópera - teatro mais antigo das Américas, segundo o Guinness Book - está fechada desde janeiro de 2014 para reformas na fiação elétrica e em uma viga de sustentação acima do palco. O lugar precisa também de um projeto de combate a incêndios. No entanto, a obra ainda está na fase inicial, ou seja, nas duas primeiras semanas os móveis foram realocados, as cortinas retiradas, o piano devidamente embalado e o trabalho iniciado.

A arquiteta e fiscal da obra pela Prefeitura, Maria Raquel Ferreira, 44 anos, é especialista em restauro pela Universidade Federal de Minas Gerais, e acompanhará o processo diariamente. Ela afirma que vai garantir a preservação do patrimônio histórico do teatro, tanto físico quanto estrutural. Outros profissionais envolvidos na reforma têm experiência com projetos de prédios históricos. O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também acompanha o andamento da obra.

Desde 2013 esse cuidado não vem sendo realizado
pela Prefeitura de Ouro Preto de forma sistemática,
pois não havia políticas públicas de investimento destinadas ao imóvel.

Em 2006, a Casa da Ópera passou por outra reforma, financiada pelo Iphan. Por ser um casarão do século XVIII, o espaço precisa de constantes reparos. Segundo o vereador Chiquinho de Assis, desde 2013 este cuidado não vem sendo realizado pela Prefeitura de Ouro Preto de forma sistemática, pois não havia políticas públicas de investimento destinadas ao imóvel. Com isso, partes essenciais deixam de ser contempladas, como a manutenção dos extintores de incêndio dentro da validade. Depois de muita pressão por parte da sociedade, a Prefeitura fez a licitação para reforma do teatro, estimada em R$ 305.934,31 e com previsão de entrega para agosto deste ano.

Pressão social

Foto: Silvia Cristina Silvado

Em maio, grupos de teatro e artistas locais mobilizaram a população pelo Facebook para dar vida ao movimento "Abre Casa da Ópera", que em dois dias de campanha já tinha mais de mil curtidas.

No dia 6 de junho, foi realizada uma "maniFESTAção", um apelo pela reabertura da Casa da Ópera, e também a comemoração dos 245 anos de existência do espaço. A movimentação contou com apoio de moradores e de artistas, que fizeram apresentações durante toda a tarde. 

"Pensamos na Casa da Ópera como o principal instrumento do teatro ouro-pretano, que além de um edifício histórico é um grande teatro, com uma acústica incrível, com história e onde grandes artistas querem se apresentar. Para nós, ele é ao mesmo tempo símbolo do movimento teatral local e também ícone, porque é, de fato, um lugar incrível", diz o ator do Grupo Residência, Julliano Mendes.

Séculos de cenas

Foto: Bruno Arita

Quem entra no anexo do teatro e vê uma pilha de pesadas cortinas no chão mal consegue imaginar que aqueles panos fizeram parte de um cenário muito diferente. Inaugurada no dia 6 de junho de 1770, aniversário do então rei de Portugal, Dom João VI, a Casa da Ópera foi construída a pedido do português João de Souza Lisboa, que morreu aproximadamente três anos depois da abertura do teatro. Após sua morte, o espaço ficou fechado por um período de luto e passou a ser responsabilidade do município, quando começou a ser chamado também de Teatro Municipal de Ouro Preto.


Conta-se que na época em que o teatro foi inaugurado não havia cadeiras, então os convidados, sempre da alta sociedade, levavam seus próprios assentos. As únicas cadeiras disponíveis ficavam no camarote imperial, destinado às autoridades e personalidades da época. Hoje, o espaço possui as réplicas das cadeiras utilizadas nesse período.

Este palco já recebeu grandes artistas, como a atriz Fernanda Montenegro que, no final de sua apresentação de Dona Doida, se ajoelhou e beijou o piso, sob aplausos da plateia.

Considerado um dos teatros com melhor acústica do país, tem capacidade para 300 pessoas sentadas, sendo 20 cadeiras reservadas para autoridades e convidados. A Casa da Ópera tem quatro andares, dois abaixo do nível da rua: plateia, ao lado as frisas, no térreo os camarotes e, em cima, as galerias. No centro dos camarotes está localizado o camarote imperial, que já contou com presenças ilustres, como Dom Pedro II, Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto. No primeiro nível estão localizados os camarins, um banheiro auxiliar para técnicos e uma sala de aquecimento. Ao lado fica localizado o anexo, onde fica a parte administrativa.

A Casa da Ópera tem formato de lira, instrumento musical que simboliza o nascimento da ópera, e alguns de seus móveis também seguem esse modelo. As cadeiras, por exemplo, têm o desenho de uma lira em seu encosto. Já o palco apresenta um desnível na frente com relação ao fundo para aumentar a visibilidade da plateia. Este palco já recebeu grandes artistas, como a atriz Fernanda Montenegro que, no final de sua apresentação de Dona Doida, se ajoelhou e beijou o piso, sob aplausos da plateia. Também é um espaço chave para a realização de eventos consagrados no calendário da cidade, como o Festival de Inverno, o MIMO e o Festival Arte Diversão Verão.

história interditada

Além da Casa da Ópera, Mariana e Ouro Preto possuem uma série de patrimônios fechados à visitação. Enquanto não são reformados, ficam à mercê da ação do tempo. Confira:

Quando a casa cai

A reparação ou reconstrução dos patrimônios públicos tombados sofre com a burocracia dos órgãos responsáveis pelas alterações. Entretanto, os patrimônios históricos privados também são vítimas em Mariana.

Ouça a radionovela que encena a situação de Dona Therezinha e sua residência, na Rua Dom Viçoso.

CRÉDITOS

Texto: Ingridy Silva
Foto da capa: Marina Morgan
Fotos: Marina Morgan, Silvia Cristina Silvado e Bruno Arita
Design e radionovela: João Vitor Marcondes
Audiovisual: Barbara Torisu

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